“Tenho 72 anos, minha vida inteira foi entregue ao vício e não sei dizer como ainda estou vivo. Mas sei que perdi meus amigos, me afastei de minha família e acabei com minha saúde. Tudo por causa deste vício.Sim, eu confesso: sou viciado em trabalho.Tudo começou na infância. Meus próprios pais me apresentaram ao trabalho. Aos cinco anos, eu já o praticava nas ruas, na frente de todos. Mas nunca uma única pessoa se aproximou de mim pra dizer ‘larga esse vício, vai pra escola’. Ou ‘vai brincar, jogar futebol, você é muito novo para estar metido nesse mundo’.Na adolescência a coisa só piorou. Eu vivia dizendo que não queria nada com o trabalho, mas a quem eu estava enganando? A verdade é que perdi o controle. Logo engravidei minha namorada e, como meus pais fizeram comigo, botei meus filhos pra trabalhar. Eu passara de usuário a traficante!Saíamos todos os dias pro trabalho e nunca a sociedade ou algum governo nos deu uma oportunidade de largar essa doença e ter alguma dignidade. Pelo contrário: nos ficharam, colocando nossos nomes em carteiras de trabalho. E nós seguimos trabalhando e trabalhando, numa trágica escalada. Minha dependência era tamanha que quase todos os dias eu ainda ficava fazendo hora extra.Hoje, o que eu construí? Nada. Não tenho uma casa pra morar, não tenho onde cair morto, vivo de aposentadoria. E nem assim larguei o miserável do vício. Continuo trabalhando e descontando pro INSS.Por isso eu peço a você que me lê: não deixe o trabalho tomar conta da sua vida e de seus familiares e filhos. Você começa achando que vai ser o dono do mundo. Mas termina na sarjeta, onde eu estou. Porque o trabalho, meu amigo, o trabalho mata!Cesar Cardoso é viciado em escrever.”(Caros Amigos – Ano XII, número 135 – junho de 2008)
“quem me dera ter esse tipo de vício,
logo na infância disseram que calcular era difícil,
e eu bobo fiz do meu destino isso”
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
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Um comentário:
o engraçado é que me pego preocupado em dois extremos... por momento em manter algo grandioso, que não é meu e financia uma pá de gente que num merece um pingo do meu suor... e depois... já sugado em casa, por viver e viver!
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