quinta-feira, 28 de agosto de 2008

prabrasileirover

pois hoje, no meio de um yakissoba reformado com alfajores legitimamente argentinos de prazos de validade expirados, alguns estudantes em situação de intercâmbio brasil/alemanha e vice-versa, conversas sobre ilhas africanas e países latino-americanos com potencial turístico, ouvimos uma música chamada "a cara do brasil", na voz de ney matogrosso.

essa letra, que considero uma reflexão muito rica sobre um estado tão vulnerável como o brasil, habitado por uma nação tão grandiosa cultural e espiritualmente, é o que fica pra dividir desse almoço globalizado.


A Cara do Brasil
(Vicente Barreto e Celso Viáfora)

Eu estava esparramado na rede
Jeca urbanóide de papo pro ar
Me bateu a pergunta meio à esmo:
Na verdade, o Brasil o que será?
O Brasil é o homem que tem sede
Ou o que vive na seca do sertão?
Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo
O que vai, é o que vem na contra mão?

O Brasil é o caboclo sem dinheiro
Procurando o doutor n'algum lugar
Ou será o professor Darcy Ribeiro
Que fugiu do hospital pra se tratar?

O Brasil é o que tem talher de prata
Ou aquele que só come com a mão?
Ou será que o Brasil é o que não come
O Brasil gordo na contradição?
O Brasil que bate tambor de lata
Ou que bate carteira na estação?

O Brasil é o lixo que consome
Ou tem nele o maná da criação?
Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho
Que é o Brasil zero a zero e campeão
Ou o Brasil que parou pelo caminho:
Zico, Sócrates, Júnior e Falcão

O Brasil é uma foto do Betinho
Ou um vidro da Favela Naval?
São os Trens da Alegria de Brasília?
Ou os trens de Subúrbio da Central?
Brasil Globo de Roberto Marinho?
Brasil bairro, Carlinhos Candeal?
Quem vê, do Vidigal, o mar e as ilhas
Ou quem das ilhas vê o Vidigal?
Brasil encharcado, palafita?
Seco açude sangrado, chapadão?
Ou será que é uma Avenida Paulista?
Qual a cara da cara da nação?

A gente é torto igual a Garrincha e Aleijadinho
Ninguém precisa consertar
Se não der certo a gente se virar sozinho
Decerto então nunca vai dar

ouçam na voz do ney!!!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

E tudo mudou...

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
'Problemas de moça' viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do 'não' não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O Fortificante não é mais Biotônico
Folhetins são novelas de TV
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.

Luiz Fernando Veríssimo

terça-feira, 12 de agosto de 2008

NORMOSE

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado ofundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo denormose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não éexatamente fácil de alcançar. O sujeito 'normal' é magro, alegre, belo ,sociável, e bem-sucedido. Quemnão se 'normaliza' acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias,depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de nãoenquadramento .A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quemsão esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto podersobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ouassado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha 'presença'através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que nãoexiste lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quemfor todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo. A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e aânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar deexigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas asregras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própriae arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu 'normal' e jogaram fora a fórmula,não patentearam, não passaram adiante.O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião oucrença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simplese sincera Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bemmais autênticos e felizes.
Martha Medeiros ( 05.08.07)-Jornal Zero Hora-P.Alegre-RS

"Podemos converter alguém pelo que somos, nunca pelo que dizemos." HubertoRohden (1893 - 1981), filósofo e educador catarinense

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Poesia solta com algumas reticências

Para meu amigo, Roney, que tantas vezes lê poesias em meus olhos (através das suas...).


A poesia mora dentro de mim e me cochicha versos e prosas... Ela me entende, ou me ensina. Acho que mais isso do que aquilo. Mas essa minha poesia não me é alcançável. Não me é alcançável porque minhas mãos são tortas e meus pensamentos ligeiros. Ligeiros como coelhos que brincam de esconde-esconde com meu coração.
A poesia passeia em meu corpo e me faz pensar e sentir milhões de vezes... tantas vezes que chego a ficar tonta.
Ninguém pode me ouvir. Ninguém pode me entender. Grito, grito alto mas meu grito é o mais silencioso que todo o Universo nunca ouviu. Ele ecoa dentro de mim e nem minhas lágrimas sentem sua sintonia e, por isso mesmo, elas não dançam, não se mostram. Ficam tímidas, postas para a próxima manifestação maior de uma poesia menos egoísta.
É necessário coragem para chegar até aqui. Foram necessárias lágrimas e dores que só eu sei o quanto me custou, me doeu, me levou para longe de quem eu era, ou queria ser, ou pensava ser... Não sei, nunca sabemos o porquê de tudo. Aliás, nunca sabemos o porquê de nada. Os motivos sempre são esquecidos.
É necessário que eu renasça das cinzas de minha solidão e de meu vazio. Talvez eu já tenha renascido ou querido renascer. Mas não sei. Renascer é como morrer. Nunca se sabe.
É necessário coragem para poder renascer... É aquela velha coisa de que não aceitamos e não queremos... Os pontos finais são doídos, e como o são! São duros, bravos, não se arrependem porque não têm começo nem fim... Não têm conversa: ou é isto ou é aquilo. Conheço muitas pessoas-pontos finais. Elas me machucam porque são pontos finais. Eu não sou, nunca fui e não sei se um dia vou ser. Queria, e tento hoje colocar vários desses pontos (e dessas pessoas) aqui, nessa minha tentativa de vomitar meu eu e minha poesia...
(Mas não consigo, não conseguirei... É só uma tentativa de uma pessoa-reticências...).
Pontos finais não se arrependem de nada. Eu me arrependo de muita coisa... Muita coisa que só eu sei ou que talvez eu nem saiba... Mas não ligo, não ligo de verdade. Meus arrependimentos me fizeram renascer ou rejuvenescer ou envelhecer!
Não sei, nunca se sabe... Nunca sabemos o porquê de nada... Mas é necessário que eu renasça hoje, amanhã e no dia seguinte...
E sempre que eu me olhar é necessário que eu renasça. Mesmo que eu não saiba. Mesmo que ninguém saiba.
É necessário coragem para se fechar as portas. E mais coragem ainda de não se olhar para trás e manusear a fechadura e senti-la quente (ainda). As fechaduras podem ser olhadas e foi isso que eu fiz todo esse tempo... Eu espiei. Espiei de tal forma que hoje me sinto como uma velha conhecida de mim, mas eu só vivo de nostalgia. De uma nostalgia que não tem fim.
É necessário que eu renasça e que eu tenha coragem.
Hoje vou fechar minha porta e não quero mais olhar pela fechadura. Não mais vou olhar pela fechadura. O mundo me espera (e como disse aquele velho sábio – que era tão jovem- “o tempo não pára e ainda corremos”).
Não vou correr. Não mais. Preciso de silêncio para escutar a minha poesia. Preciso me sentir para ouvir a minha poesia. Preciso de dor para ouvir a minha poesia...
Preciso de poesia para ouvir a minha poesia. E para ouvir poesia e sentir poesia e viver poesia... eu preciso de sentir. Não mais vou fugir de quem sou, não mais vou fugir de minhas várias reticências e de minhas (íntimas) interrogações... É necessário coragem suficiente para aceitar quem sou. E sou uma reticências... Uma coisa que não tem fim, nem começo mas se arrepende.
Só não quero que me exijam que seja um ponto final. Não sou e não serei. Quem sabe, na verdade... Nem eu sei... Porque eu renasci, ou renascerei, ou quero renascer...
E é necessário coragem para renascer... É necessários arrependimentos, lágrimas, sonhos, dores... Que só eu sei o quanto me custaram, doeram, e quanto me levaram para longe de mim, do que eu era, quem seria ou queria ser... Só eu sei o quanto me levaram para perto de mim, de minha poesia... De quem eu serei...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

lixo no mar


do lado esquerdo há uma ave que morava na praia. do lado direito estão todos os resíduos encontrados em seu estômago. morreu por alimentar-se da ignorância humana.
... e vc vai à praia e não se importa que uma tampinha da garrafa (ou que a garrafa toda, ou todas as garrafas) de água mineral caia no mar.




essa tartaruga entrou em anel de plástico quando pequena. apenas isso!
e mais uma vez, nem eu e nem vc nos abaixamos para pegar o lacre da embalagem que caiu na areia e a maré levou pro mar...

no oceano pacífico há uma enorme camada flutuante de plástico, que já é considerada a maior concentração de lixo do mundo, com cerca de 1000 km de extensão. vai da costa da califórnia, atravessa o havaí e chega a meio caminho do japão e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros. acredita-se que haja neste vórtex de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de PLÁSTICOS de todos os tipos.
pedaços de redes, garrafas, tampas, bolas, bonecas, patos de borracha, tênis, isqueiros, sacolas plásticas, caiaques, malas e todo exemplar possível de ser feito com plástico. segundo seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica tem quase duas vezes o tamanho dos estados unidos.

em algumas áreas do oceano pacifico podem se encontrar uma concentração de polímeros de até seis vezes mais do que o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha.

comece a comer seu lixo. vc vai ter que se habituar em breve.

sábado, 2 de agosto de 2008

Como pude eu continuar a caminhar como se não tivesse visto nada?

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Mas será que não faríamos o mesmo?
por Louraidan Larsen

Há algum tempo, vi uma moça estirada no chão, na frente da Faculdade de Medicina, na Alfredo Balena, às 6 e pouco da noite. Normal, é o que mais vemos ultimamente ao andar pelo centro de BH. Porém, me chamou a atenção (mais do que ela estar jogada no chão) foi ela estar “apagada” e com mão e braço roxos. Fiquei assustado e fui ao Pronto Socorro João XXIII ao lado, menos de 50 metros de distância. Fui direto ao Samu, aquele serviço de atendimento de urgência.
"Amigo, é urgente: tem uma moça caída e roxa no chão", eu disse. "Não posso atender, trabalhamos por satélite e somente atendemos por meio de chamadas pelo 190". "Mas a mulher está a 20 passos de você, aqui do lado", retruquei. "Não podemos".
Fui à secretaria, procurei alguém e um cara da portaria me acompanhou até onde estava a moça. Seu braço e mão continuavam roxos, ela seguia “apagada”. O rapaz disse que sabia quem era ela, velha conhecida, dormia sempre nas redondezas, não adiantaria levar pro hospital, que voltaria pra rua. Ele cutucou a mulher, chamou e ela despertou por instantes e voltou a “dormir”. Fui embora.
Em 2004, assistia a um telejornal, quando passou a premiação de uma série de reportagens que um jornalista fez sobre a fome. Fiquei sabendo, na época, que uma das moças entrevistadas morreu de fome dias depois. Não quero julgar o repórter, nem o câmera, mas fiquei imaginando. Entrevistaria alguém que há dias não come, está pra morrer e daria um tchaw? Teria um contato com aquela pessoa, conversaria com ela, sairia e diria... até mais?
No caso da moça de braço roxo, fiquei sem saber o que fazer, após a negativa do hospital. Não tinha (ou tinha?) como pegá-la no colo, colocá-la nas costas e levá-la pra algum lugar. Mas, ao mesmo tempo, é tão gritante passar ao lado de uma pessoa nessa situação e não fazer nada... assim como não fez nada o repórter. O jornalista estava trabalhando, eu estava indo pra casa. Fiquei chocado com a atitude do repórter ao sair e deixar a moça morrer de fome, mas será que eu não faria o mesmo, assim como deixei a moça de braço roxo no chão?
...
Este texto me lembra um outro, que na verdade não me lembro de quem era, acho que é um conto de alguém renomado que li em sala de aula provavelmente na quinta ou sexta série do ginásio... mas me lembro que no texto o cenário era uma praça de uma cidadezinha pacata que nas escadarias da igreja estava esticado um senhor bem vestido, terno e gravata, com um relógio que chamava atenção e pulseiras que brilhavam forte... ele aparentemente estava dormindo.... as pessoas passavam, olhavam, não reconheciam e continuavam a caminhar... depois de um tempo as pessoas olhavam, não reconheciam mas percebiam que ele estava morto, e pra não dar algum trabalho continuavam a caminhar como se não tivessem visto nada... depois de um tempo as pessoas olhavam, não reconheciam, percebiam que ele estava morto, e olhavam nos bolsoa pra ver o que ele carregava consigo, mas pra não dar algum trabalho continuavam a caminhar como se não tivessem visto nada... depois de um tempo as pessoas olhavam, não reconheciam, percebiam que ele estava morto, olhavam nos seus bolsos pra ver o que ele carregava consigo, e foram pegando um a um os pertences do falecido, acompanhado de um "Coitado! parecia ser tão feliz!" e continuavam a caminhar como se não tivessem visto nada...
Quando eu li esse texto, eu me lembro que inconformado eu pensava... "mas como pode esse pessoal todo ter agido de tal forma???"... talvez porque ainda não tivesse saído para o mundo... e hoje.. morando na grande São Paulo, depois de ter passado por vários lugares desse país... me peguei pensando...
Como pude eu continuar a caminhar como se não tivesse visto nada?...
Danilo