sábado, 2 de agosto de 2008

Como pude eu continuar a caminhar como se não tivesse visto nada?

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Mas será que não faríamos o mesmo?
por Louraidan Larsen

Há algum tempo, vi uma moça estirada no chão, na frente da Faculdade de Medicina, na Alfredo Balena, às 6 e pouco da noite. Normal, é o que mais vemos ultimamente ao andar pelo centro de BH. Porém, me chamou a atenção (mais do que ela estar jogada no chão) foi ela estar “apagada” e com mão e braço roxos. Fiquei assustado e fui ao Pronto Socorro João XXIII ao lado, menos de 50 metros de distância. Fui direto ao Samu, aquele serviço de atendimento de urgência.
"Amigo, é urgente: tem uma moça caída e roxa no chão", eu disse. "Não posso atender, trabalhamos por satélite e somente atendemos por meio de chamadas pelo 190". "Mas a mulher está a 20 passos de você, aqui do lado", retruquei. "Não podemos".
Fui à secretaria, procurei alguém e um cara da portaria me acompanhou até onde estava a moça. Seu braço e mão continuavam roxos, ela seguia “apagada”. O rapaz disse que sabia quem era ela, velha conhecida, dormia sempre nas redondezas, não adiantaria levar pro hospital, que voltaria pra rua. Ele cutucou a mulher, chamou e ela despertou por instantes e voltou a “dormir”. Fui embora.
Em 2004, assistia a um telejornal, quando passou a premiação de uma série de reportagens que um jornalista fez sobre a fome. Fiquei sabendo, na época, que uma das moças entrevistadas morreu de fome dias depois. Não quero julgar o repórter, nem o câmera, mas fiquei imaginando. Entrevistaria alguém que há dias não come, está pra morrer e daria um tchaw? Teria um contato com aquela pessoa, conversaria com ela, sairia e diria... até mais?
No caso da moça de braço roxo, fiquei sem saber o que fazer, após a negativa do hospital. Não tinha (ou tinha?) como pegá-la no colo, colocá-la nas costas e levá-la pra algum lugar. Mas, ao mesmo tempo, é tão gritante passar ao lado de uma pessoa nessa situação e não fazer nada... assim como não fez nada o repórter. O jornalista estava trabalhando, eu estava indo pra casa. Fiquei chocado com a atitude do repórter ao sair e deixar a moça morrer de fome, mas será que eu não faria o mesmo, assim como deixei a moça de braço roxo no chão?
...
Este texto me lembra um outro, que na verdade não me lembro de quem era, acho que é um conto de alguém renomado que li em sala de aula provavelmente na quinta ou sexta série do ginásio... mas me lembro que no texto o cenário era uma praça de uma cidadezinha pacata que nas escadarias da igreja estava esticado um senhor bem vestido, terno e gravata, com um relógio que chamava atenção e pulseiras que brilhavam forte... ele aparentemente estava dormindo.... as pessoas passavam, olhavam, não reconheciam e continuavam a caminhar... depois de um tempo as pessoas olhavam, não reconheciam mas percebiam que ele estava morto, e pra não dar algum trabalho continuavam a caminhar como se não tivessem visto nada... depois de um tempo as pessoas olhavam, não reconheciam, percebiam que ele estava morto, e olhavam nos bolsoa pra ver o que ele carregava consigo, mas pra não dar algum trabalho continuavam a caminhar como se não tivessem visto nada... depois de um tempo as pessoas olhavam, não reconheciam, percebiam que ele estava morto, olhavam nos seus bolsos pra ver o que ele carregava consigo, e foram pegando um a um os pertences do falecido, acompanhado de um "Coitado! parecia ser tão feliz!" e continuavam a caminhar como se não tivessem visto nada...
Quando eu li esse texto, eu me lembro que inconformado eu pensava... "mas como pode esse pessoal todo ter agido de tal forma???"... talvez porque ainda não tivesse saído para o mundo... e hoje.. morando na grande São Paulo, depois de ter passado por vários lugares desse país... me peguei pensando...
Como pude eu continuar a caminhar como se não tivesse visto nada?...
Danilo

2 comentários:

Anônimo disse...

apenas pense.
não tente concluir nada.
diga o máximo de "bom dia" que conseguir.
me ajude, pense.
sorria para as pessoas.
dê-lhes atenção.
volte para casa e pense.
se você acredita em deus, não tenha pressa.
apenas olhe.
o máximo que conseguir, olhe.
alguém passa necessidade agora. ajude!
e observe o que acontece.
se você não acredita em deus, não faça promessa.
aja!
vá lá e ajude.
alguém vai passar necessidade dentro de instantes.
ajude.
e depois sorria.
como se agradecesse a si mesmo.
nós somos energia.
tudo é energia.
quando estamos juntos também somos.
pela termodinâmica, nenhuma energia pode ser criada.
e sua transformação é sempre degenerativa.
ela se transforma.
necessariamente, ela piora.
até atingir seu estágio de menor nobreza.
se recarregue.
saia pra rua cheio de energia positiva.
e se divida.
leve energia boa consigo.
e dê de graça.
abrace.
sorria.
e se ilumine.
volte para casa.
e pense novamente.

Ana Lis Soares disse...

é, Dan. também me pergunto sempre como eu pude continuar a caminhar dps de tudo o que eu vi? talvez vi e enxerguei... não sei. não sabemos... eu diria o mundo é um moinho e nós somos cegos hipócritas.