sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Poesia solta com algumas reticências

Para meu amigo, Roney, que tantas vezes lê poesias em meus olhos (através das suas...).


A poesia mora dentro de mim e me cochicha versos e prosas... Ela me entende, ou me ensina. Acho que mais isso do que aquilo. Mas essa minha poesia não me é alcançável. Não me é alcançável porque minhas mãos são tortas e meus pensamentos ligeiros. Ligeiros como coelhos que brincam de esconde-esconde com meu coração.
A poesia passeia em meu corpo e me faz pensar e sentir milhões de vezes... tantas vezes que chego a ficar tonta.
Ninguém pode me ouvir. Ninguém pode me entender. Grito, grito alto mas meu grito é o mais silencioso que todo o Universo nunca ouviu. Ele ecoa dentro de mim e nem minhas lágrimas sentem sua sintonia e, por isso mesmo, elas não dançam, não se mostram. Ficam tímidas, postas para a próxima manifestação maior de uma poesia menos egoísta.
É necessário coragem para chegar até aqui. Foram necessárias lágrimas e dores que só eu sei o quanto me custou, me doeu, me levou para longe de quem eu era, ou queria ser, ou pensava ser... Não sei, nunca sabemos o porquê de tudo. Aliás, nunca sabemos o porquê de nada. Os motivos sempre são esquecidos.
É necessário que eu renasça das cinzas de minha solidão e de meu vazio. Talvez eu já tenha renascido ou querido renascer. Mas não sei. Renascer é como morrer. Nunca se sabe.
É necessário coragem para poder renascer... É aquela velha coisa de que não aceitamos e não queremos... Os pontos finais são doídos, e como o são! São duros, bravos, não se arrependem porque não têm começo nem fim... Não têm conversa: ou é isto ou é aquilo. Conheço muitas pessoas-pontos finais. Elas me machucam porque são pontos finais. Eu não sou, nunca fui e não sei se um dia vou ser. Queria, e tento hoje colocar vários desses pontos (e dessas pessoas) aqui, nessa minha tentativa de vomitar meu eu e minha poesia...
(Mas não consigo, não conseguirei... É só uma tentativa de uma pessoa-reticências...).
Pontos finais não se arrependem de nada. Eu me arrependo de muita coisa... Muita coisa que só eu sei ou que talvez eu nem saiba... Mas não ligo, não ligo de verdade. Meus arrependimentos me fizeram renascer ou rejuvenescer ou envelhecer!
Não sei, nunca se sabe... Nunca sabemos o porquê de nada... Mas é necessário que eu renasça hoje, amanhã e no dia seguinte...
E sempre que eu me olhar é necessário que eu renasça. Mesmo que eu não saiba. Mesmo que ninguém saiba.
É necessário coragem para se fechar as portas. E mais coragem ainda de não se olhar para trás e manusear a fechadura e senti-la quente (ainda). As fechaduras podem ser olhadas e foi isso que eu fiz todo esse tempo... Eu espiei. Espiei de tal forma que hoje me sinto como uma velha conhecida de mim, mas eu só vivo de nostalgia. De uma nostalgia que não tem fim.
É necessário que eu renasça e que eu tenha coragem.
Hoje vou fechar minha porta e não quero mais olhar pela fechadura. Não mais vou olhar pela fechadura. O mundo me espera (e como disse aquele velho sábio – que era tão jovem- “o tempo não pára e ainda corremos”).
Não vou correr. Não mais. Preciso de silêncio para escutar a minha poesia. Preciso me sentir para ouvir a minha poesia. Preciso de dor para ouvir a minha poesia...
Preciso de poesia para ouvir a minha poesia. E para ouvir poesia e sentir poesia e viver poesia... eu preciso de sentir. Não mais vou fugir de quem sou, não mais vou fugir de minhas várias reticências e de minhas (íntimas) interrogações... É necessário coragem suficiente para aceitar quem sou. E sou uma reticências... Uma coisa que não tem fim, nem começo mas se arrepende.
Só não quero que me exijam que seja um ponto final. Não sou e não serei. Quem sabe, na verdade... Nem eu sei... Porque eu renasci, ou renascerei, ou quero renascer...
E é necessário coragem para renascer... É necessários arrependimentos, lágrimas, sonhos, dores... Que só eu sei o quanto me custaram, doeram, e quanto me levaram para longe de mim, do que eu era, quem seria ou queria ser... Só eu sei o quanto me levaram para perto de mim, de minha poesia... De quem eu serei...

Um comentário:

Roney Rodrigues disse...

Adorei seu texto (ou poesia em prova, ou prova poética, sei lá). O fato é que me sinto extremamente honrado por dedicar-me o texto, que fala tanto de você, de mim e de tantas pessoas... Sou também uma pessoa-reticênte, mas é melhor assim, né?, pois como dizia Mário Quintana, a reticência é a continuação do pensamento por suas próprias pernas... E nossos pensamentos têm vida própria...te adoro! beijos!